Nada a pedir, nada a reclamar, só agradecer
Depois de um verão quase flat e forte demanda de novos surfistas, Sergipe proporcionou boas ondas nos principais picos surf
A partir da segunda quinzena de outubro do ano passado os surfistas de Sergipe passaram a se relacionar diariamente com Netuno, a conversa era de lamentação e pedidos para as ondas melhorem. O mar não estava contribuindo à prática esportiva surf e com a chegada do verão 18/19 as praias passaram a ser “piscininha amor”.
No período do verão as ondas sergipanas perdem tamanho, força e intensidade. O mar fica excelente para o surfista menos experiente adquirir a prática esportiva. O verão 19 em Aracaju também proporcionou sol escaldante, abafamento diurno e noturno, areia fofa pegando fogo, pontos de incêndios na vegetação rasteira da areia da praia e sequência de dias quase flat (sem onda) no primeiro bimestre.
Crescimento Flutuante
A praia atraiu um bom número de novos surfistas no primeiro trimestre. A expansão imobiliária da região sul da Atalaia e adjacências, o aumento no fluxo turístico e as férias estudantis proporcionaram o crescimento flutuante da prática esportiva na alta estação.
O surf é moda, é tendência, é sinônimo de saúde, é esporte olímpico e o Brasil é o atual campeão da Liga Mundial de Surf (WSL). Empresas de vários ramos de negócios investem massivamente no esporte e nos atletas para atingir uma nova demanda de consumidor.
O aumento da exibição midiática da vitória de Gabriel Medina na Liga Mundial de Surf 2018 atrai crianças, jovens e adultos a fazer parte da atmosfera surf. O esporte está inserido no cenário praiano de Sergipe há mais de 50 anos. De acordo com a matéria “Moda Surf: mercado em expansão”, no site do Sebrae, atualmente, há três milhões de praticantes de surfe no Brasil e 30 milhões de consumidores de surfwear. Com um crescimento médio de 10% ao ano, o faturamento desta indústria é R$ 7 bilhões. O segmento responde por 15% da produção da indústria têxtil, em conjunto com moda urbana (streetwear) e moda praia (beachwear).
Reação no final do Carnaval
No verão 2019 alguns dias proporcionaram ondas de até um metrinho em meio ao fenômeno natural Elniño mas, em geral, o mar foi quase flat. Na metade das festas de Carnaval, as ondulações reagiram e os surfistas passaram a matar a secura. “Desde o final de outubro que o surfista vinha sofrendo com a falta constante de ondas. Teve dias flat com surfista remando! Vários picos do Brasil tiveram dias flat, não foi só Sergipe. Somos guerreiros instigados e quem gosta de surfar está dentro do mar treinando em mar bom ou ruim”, afirmou o experiente surfista Ginaldo Silveira na praia do Havaizinho na chegada do Outono.
Amnésia rodando
A Rodovia SE-100 ficou bastante movimentada no primeiro trimestre. O experiente competidor profissional Alex Memol e seu amigo, fotógrafo e surfista Richard Barros se internaram no pico e alardearam através de publicações nas redes sociais que a Amnésia, em Ponta dos Mangues, Pacatuba, não parava de quebrar ondas rodando, tubulares.
A massificação da comunicação levou surfistas a buscarem as ondas perfeitas que variavam entre meio metrinho até 1,5 metros nos dias de bons swell em um dos picos mais paradisíaco de Sergipe.
Para o surfista chegar em Ponta dos Mangues tem que ter muito surf na veia. Dormir cedo é regra, se alimentar bem para surfar bem, acordar na madruga e instigado, encontrar com os amigos e colocar o carro na estrada. Uma galera surf arriscou e pegou altas ondas no início da temporada 2019. Também tiveram surfistas que não acertaram o dia das ondas e a trip surf se transformou em passeio turístico.
El Niño, maré de março, chuvas, ventos e trovões
A maior maré do ano (2.4 metros), maré alta em vários dias consecutivos e chuvas momentâneas em excessos criaram caos na zona sul de Aracaju, em especial na região do bairro Treze de Julho. Raios e trovões provocaram temor e morte em Sergipe. A rajada de vento derrubou árvores, luminosos publicitários e palhas de coqueiros na Atalaia e região. As ondas chegaram com maior potencial nas praias sergipanas na segunda quinzena do mês de março. Os surfistas locais afirmaram que o último mês do primeiro trimestre foi muito intenso.
O outono chegou com tudo, é fato. De norte a sul as ondas fizeram a cabeça da galera. Tem gente sonhando até hoje com os tubos nas praias das Dunas.
Nos últimos 20 anos o melhor mar
Ondas com tamanho, força e intensidade marcaram a última semana de março, em especial, a inesquecível sexta-feira 29. Que mar, ufa! Os surfistas locais tiveram que reprogramar as agendas de compromissos, o mar estava para surf.
Condições perfeitas no dia inesquecível: maré alta e enchendo, vento terral girando de oeste, sudoeste e noroeste, ondulação de sul com grande energia e uma barca de surfistas espalhados no outside da capital no início da manhã.
“Já tem muito tempo que não tem boas ondas em Aracaju como ontem. Direitas estavam entrando na série, ondas extensas, proporcionando várias manobras radicais. São mais de 20 anos que as ondas não quebram tão perfeitas. Eu vi onda quebrando na Cinelândia e abrindo até o Havaizinho”, afirmou Ginaldo Silveira na manhã de sábado, 30 de março.
“As ondas quebravam da praia da Cinelândia até depois dos Arcos da Orla! Peguei uma muito boa, lá da Cinelândia, dei várias manobras seguidas, tirando muita água”, afirmou o surfista Yure San.
Às direitas estavam volumosas vindas lá de dentro, nas séries linhas perfeitas com tamanho e parede aberta para o surfista de alma dominar a força natureza. Todos os presentes estavam com a mente concentrada, focada no horizonte, a caixa de ferramenta tinha que estar em dia, destruir a onda com estilo e radicalidade era a palavra de ordem que movia cada surfista presente naquele momento mágico.
O mar proporcionou boas ondas, mas cobrou dos surfistas preparação física e equipamento adequado para as condições. Surfistas menos experientes boiaram no outside e observaram os mais experientes destruindo as ondas. Respeitar o seu limite e a força da natureza são fundamentais para praticar o esporte de forma segura, sem risco de vida.
Abril começou bombando
Todos os picos surf de Sergipe quebraram muito onda entre os dias 22 de março até o dia 03 de abril. Os surfistas movimentaram as estradas estaduais. Eles buscaram o melhor fundo e melhor batida da onda na bancada, resumindo: a onda perfeita.
Dunas Tubular
A praia das Dunas, em Estância, proporcionou as melhores ondas nos últimos swell. Era dropar, botar pra andar e se projetar para pegar os tubos de até 1,5m nos melhores dias, em especial os primeiros dias deste mês. “Grande, com força, tubular e com manobras fortes no inside, se resume Dunas”, afirma o surfista Henrique da Coroa do Meio no primeiro final de semana de abril.
Praia da Caueira abrindo
Do dia 28 de abril até o dia 05 de maio a praia da Caueira, em Itaporanga D´Ajuda, recebeu longas direitas abrindo perfeitas, com tamanho e muita pressão. O surf de borda tinha que está no pé e o surfista preparado fisicamente para enfrentar a corrente moderada e romper o inside o mais rápido possível. O intervalo alongado proporcionava ondas de séries e muitas quebravam na cabeça dos menos preparados, menos experientes.
Nos dias do swell os locais da Caueira estiveram presentes no outside, em especial nos primeiros dias de maio. Mateus, Kennedy, Torquato, Camila Oliveira, Adriano Mia, entre outros, surfaram boas ondas do lado direito da praça de eventos. Também surfaram por lá os experientes surfistas DaMata, Doug Paulista, Paulo Marcelo, Jeferson Fernandes, Rico Merg, Vladimir Abreu (Soneca), Alex Fabiano (Kokota), Anacleto Júnior e Rubens Souza.
O que vem por aí
O El Niño está presente com pouca intensidade, mas proporcionando um bom começo de temporada, com ondas que não quebravam em Aracaju há mais de 20 anos. Quem esteve presente no maior swell do ano até o momento, vibrou muito e ainda vivencia as melhores ondas na cabeça.
A previsão continua apontando para boas ondas até a chegada do inverno! Prepare o seu equipamento, intensifique as atividades físicas, o surfista precisará de muito gás na remada, força muscular, elasticidade e muito surf com pressão no pé.
Boas ondas.
Aracaju (SE), 01 de maio de 2019.