Águas-vivas atacam turista e sufistas na praia do Havaizinho
Na quinta-feira 02, no início da noite, através de conversa reservada no aplicativo de mensagens, o surfista local Yure San fez o alerta, afirmando que a praia do Havaizinho estava repleta de águas-vivas e o mesmo tinha sido vítima no horário da maré enchendo, às 12h, queimando os dois braços ao praticar o esporte.
O surfista de nome Crepom, morador do Conjunto Augusto Franco, também foi vítima das águas-vivas no mesmo dia do alerta de Yure San. O drama começou no outside, em milésimos de segundo os primeiros sintomas foram de muita dor e, em seguida, a queimadura intensa no peito provocou forte ânsia de vômito. Segundo os surfistas locais do Havaizinho, Crepom começou a vomitar sangue, saiu do mar com ajuda do surfista Michel Messenger e seus amigos. Ao chegar no quiosque de coco na praia do Havaizinho, os surfistas prestaram os primeiros socorros.
Nos bares do Havaizinho, o pânico foi geral nos primeiros minutos da tarde da última quinta-feira 02, uma turista ao se banhar foi queimada no tronco, na altura da costela, na beira da praia. O atendente do bar conhecido por Galego, afirmou para a redação do Sombreiro Surf, que a turista saiu se arrastando do mar, chorando, com muita dor e seu esposo estava sentado na cadeira dos bares. Ele saiu correndo de forma descontrolada para prestar socorro à sua esposa.
“Não foi uma e nem duas pessoas queimadas por águas-vivas ontem. Todos os banhistas presentes ficaram em pânico ao ver o sofrimento da turista na beira da praia. O esposo carregou-a nos braços até o calçadão da Orla. Os guarda-vidas do Corpo de Bombeiros deveriam permanecer nesse local para prestar os primeiros socorros. Não se trata apenas de afogamentos, aqui realmente é muito perigoso, tivemos vítimas de afogamentos nos últimos anos, mas essa questão das águas-vivas está acontecendo desde o final de semana passado”, afirma o atendente dos bares do Havaizinho, Galego.
O jovem Fernando “Fefe” também foi vítima das águas-vivas. Ele estava surfando no canto do Havaizinho na tarde da última quinta-feira 02, e ao remar numa onda foi queimado na altura do peito. Em seguida, o surfista ficou em pé na prancha, caiu e bateu o rosto no fundo de areia, ralando a testa.
Na sexta-feira 03, no período da maré enchendo, às 12h, as águas-vivas continuaram a fazer mais vítimas. O experiente surfista Chiquinho Andrade não passou cinco minutos no outside, sofreu uma grave queimadura na lateral do pescoço, entorno da artéria aorta, nuca e orelha. “Chiquinho chegou cambaleando no chuveiro em frente ao restaurante Coco Sergipe, colocou a prancha no chão de forma brusca, desabou na calçada e começou a gritar, a se contorcer de tanta dor. O atendente do quiosque de coco prestou ajuda, colocando vinagre em cima da queimadura. A cena foi muito triste, qualquer ser humano ficaria tocado com toda a situação”, afirma o CEO do Sombreiro Surf, Carlos Cruz.
De acordo com os especialistas a água-viva é da família Cnidários e pessoas alérgicas ou sensíveis ao veneno do animal têm problemas mais graves, a exemplo do Choque Anafilático. Não se pode lavar a queimadura com água fria corrente, o ato libera mais toxina. O vinagre de cozinha é a melhor solução para aliviar a dor e preservar o local afetado.
A água quente do verão aumenta o ciclo reprodutivo das águas-vivas no litoral brasileiro. Em Sergipe, independente da mudança das correntes marítimas que trazem maior incidência de água fria, o verão mantém predominância na atual estação e o fraco efeito do efeito natural Elniño que aquece a água do mar pode ter contribuído à presença do animal.
O programa Domingo Espetacular da Rede Record de Televisão, apontou que o litoral da Paraíba teve um aumento considerável de águas-vivas no verão, inúmeros animais foram encontrados no alto mar por pescadores, na beira do mar e na areia por banhistas. Os especialistas chamaram atenção para a presença do animal nas praias da região sul, a exemplo do litoral de Santa Catarina, que manteve incidências de ataques mesmo em água fria. Eles apontaram que existe a possibilidade do desiquilíbrio natural, as tartarugas se alimentam das águas-vivas e algas marítimas, mas com o agravante da poluição dos mares a tartaruga acaba engolindo plástico pensando que é alimento e morrendo.
Proibir os banhistas de tomar banho não é o caminho correto, mas alertar e prestar socorro são obrigações do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe, e infelizmente o déficit de profissionais na corporação é realidade. Não se encontra salva-vidas nas praias de Aracaju de forma fixa como era antes do Projeto Surf Salva. Surfistas apontam que os bombeiros militares são vistos no carro da instituição na beira da praia, apenas colocando e retirando as bandeiras de alerta no decorrer do dia.
Andar de carro na beira da praia coloca em risco a vida o ciclo reprodutor das tartarugas marinhas que vêm para o litoral desovar. A base do Projeto Tamar fica localizada na praia do Havaizinho, Lagos da Orla da Atalaia e a entidade do terceiro setor constantemente organiza a sociedade civil para realizar solturas dos animais.
Economia em tempos de crise
Para reduzir os custos financeiros do Governo de Sergipe neste período de crise e, consequentemente, preservar a fauna e a flora marinha da praia da Atalaia, o Corpo de Bombeiros deve evitar o uso dos veículos na beira da praia e os salva-vidas ficariam em pontos fixos nas praias dos Artistas, Vila do Forró, Lagos da Orla, Havaizinho, Arcos da Orla e Cinelândia.
Seriam seis profissionais trabalhando nas localizações especificadas, com apoio de rádio comunicação ou celular para manter contato com as equipes de bases (Postos da Praça de Eventos e Passarela do Caranguejo). Na existência de ocorrência grave, o veículo da corporação poderia chegar ao local apenas para prestar atendimento.
Reduzir o uso de veículos de grande porte na areia das praias ajudaria a natureza e cortaria as despesas financeiras com locação, manutenção e combustível.
“Surfo há 35 anos em Sergipe e nunca mais vi os salva-vidas fazendo corrida ou andando a pé na areia da praia nos últimos 5 anos na capital. A distância entre os pontos com maiores incidências de afogamentos em Aracaju é curta. Os salva-vidas poderiam se deslocar andando a pé das duas bases do Corpo de Bombeiros na praia da Atalaia para qualquer ponto das praias com maior número de banhistas e montar bases fixas no início do dia para passar todo o seu horário de trabalho zelando pela vida dos banhistas locais e turistas. Mas infelizmente eles ficam em grupo de quatro profissionais rodando de caminhonete na beira da praia, com os vidros fechados e ar-condicionado ligado, colocando e retirando bandeiras de alerta, onde já deveria existir placas comunicativas grandes, fixadas em madeira, alertando para o risco de afogamento. Quem está salvando vidas nas praias da capital são os surfistas. A ideia do Salva Surf foi bem-vinda devido ao alto índice de afogamento nas praias da capital nos últimos 10 anos. Achei um absurdo retirar os salva-vidas que antes eram fixos e transferir a obrigação indiretamente para o surfista. O número de salva-vidas ampliou em Sergipe, nas principais praias litorâneas as prefeituras investiram nos profissionais civis, como a cidade de Pirambu. O surfista investe dinheiro em equipamentos caros, deslocamento à praia, protetor solar e alimentação para ajudar a cumprir a obrigação dos salva-vidas militares, que recebem salários fixos e são responsáveis pelo trabalho, absurdo! O esporte está presente no litoral sergipano há mais de 50 anos e o surfista sempre salvou os banhistas. O Governo de Sergipe tem que determinar salva-vidas fixo na beira da praia e cortar gastos em excessos com veículos em tempos de crise financeira. A temporada das ondas outono-inverno 2019 já chegou, trazendo ondulações grandes, forte corrente marítima, águas-vivas, caravelas e quem sabe, perda e dor para as famílias dos afogados. Peço a Deus que não!”, afirma o surfista local da praia do Havaizinho que pediu anonimato.
Aracaju (SE), 04 de maio de 2019.