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Petróleo cru afeta ecossistema marítimo de Sergipe

Após a criação do Gabinete de Crise, no último sábado (05), o Governo de Sergipe decretou situação de emergência em toda extensão da faixa litorânea sergipana, após o petróleo cru, de origem desconhecida, a deriva no Oceano Atlântico desde o dia 02 de setembro, invadir o ecossistema marítimo sergipano. O ato foi oficializado no Diário Oficial, datado na segunda-feira 07.

A crise ambiental que assola os nove estados da região Nordeste, trouxe o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a Sergipe, na tarde do dia 07, para aferir o forte impacto ambiental oriundo do petróleo cru na Praia do Viral, extremo sul da capital sergipana.

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na Praia do Viral, extremo sul da capital sergipana – Foto: Ibama/SE

Salles sobrevoou o litoral sergipano por 30 minutos, ao lado do governador do Estado, Belivaldo Chagas e gestores do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis e ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade para analisar a gravidade do problema e determinar ações emergenciais.

O petróleo cru chegou ao litoral sergipano no dia 25 de setembro, numa manhã de boas ondas na maioria das praias locais. Grupos de “conversas surf” por aplicativo apresentaram as primeiras fotos retratando o grave crime ambiental na Praia de Ponta dos Mangues, em Pacatuba.

Praia do litoral norte sergipano nesta semana – Foto: Governo de Sergipe

O site da Folha de São Paulo publicou matéria intitulada “Mancha de Óleo que atingiu 39 praias do Nordeste chega a Sergipe”, no início da trágica noite de quarta-feira, anunciando o grave problema que se aproximava de todo o litoral.

Do dia 25 de setembro até a última segunda-feira (07), passaram-se 12 longevos dias para as autoridades públicas municipais, estaduais e federais constatarem a gravidade do problema ambiental ocorrido no litoral sergipano. Biólogos apontam que toda a composição química do petróleo cru, ameaça não só as vidas das tartarugas marinhas, das baleias jubartes, golfinhos, peixes e outras espécies, mas toda a cadeia reprodutiva que compõem os leitos dos rios e manguezais de Sergipe.

Desova da espécie Oliva, na Reserva Santa Isabel, no litoral norte de Sergipe – Foto: Projeto Tamar

O Instituto Tamar suspendeu a soltura dos filhotes de tartarugas em Sergipe e no litoral norte da Bahia. O período de reprodução das espécies preocupa os ambientalistas, a instituição intensificou o monitoramento das praias afetadas e da Reserva Ambiental Santa Isabel, no litoral norte de Sergipe, área com grande número de desova.

Adema instalará boias flutuantes

A Administração Estadual do Meio Ambiente, Adema, instalará boias absorventes flutuantes nos rios sergipanos, como medida de urgência para evitar a contaminação dos rios e manguezais, berços reprodutivos de diversas espécies da fauna e flora. A decisão foi anunciada na última segunda-feira (07), pelo órgão competente.

Na visão dos surfistas

“Todas as decisões anunciadas pelos governantes são válidas, infelizmente algumas tardias. Era para os órgãos competentes terem se antecipado ao problema, minimizando o efeito das manchas de petróleo antes de tocar nas praias, rios e manguezais. Faltou planejamento e integração das instituições públicas e privadas, a grave poluição em todo o litoral poderia ter sido evitada”, alertou na roda de conversa, no último sábado, na Praia do Havaizinho, Orla da Atalaia, um sufista experiente que pediu para não ser identificado.

Praia do Havaizinho, Orla da Atalaia, ponto de encontro dos surfistas locais durante a semana – Foto: SS

A problemática da poluição do petróleo “misterioso” afeta as praias da região Nordeste há mais de 30 dias. Diariamente os governantes recebiam informações do avanço da macha de petróleo em cada litoral do estado nordestino. A imprensa nacional televisiva, impressa e digital alertaram antecipadamente a gravidade do problema antes de chegar ao litoral de Sergipe.

Nos grupos de conversas por aplicativo, surfistas do litoral norte reclamaram na última quinta-feira (03), que as autoridades públicas locais perdiam tempo em focar apenas na análise das manchas de petróleo coletadas e retirar o produto das areias das praias. Na visão dos surfistas a medida emergencial era de contenção do petróleo cru em alto mar.

Imagem aérea do litoral – Foto: Grupo de Notícias

“A grande mancha de petróleo encostada nas pedras da Coroa do Meio, Rio Sergipe, encontrada na manhã da última quinta-feira, aponta que o movimento da maré (entre cheia, preamar e secante) nos últimos dias, expandiu rapidamente o petróleo nos estuários e manguezais sergipanos”, relatou outro surfista experiente na roda de conversa no último sábado, na Praia do Havaizinho.

Na areia da Praia do Havaizinho, na manhã da última quarta-feira (02), já apresentava grande quantidade de petróleo cru – Foto: SS

“A região das pedras da Coroa do Meio, Rio Sergipe, é berçário de vida, toda aquela extensão é cercada de tartarugas, peixe mero, golfinhos. Os governantes deveriam ter colocado boias de contenção em pontos estratégicos no alto mar sergipano desde o aparecimento das manchas de petróleo no litoral norte, em Pacatuba. Grande parte do petróleo cru poderia ter sido contida pelas boias, minimizando os riscos nas praias e rios”, relatou o surfista conhecido por “O Coroa”, um dos mais experientes em atividade no surf sergipano.

Rios e manguezais afetados

O clico da maré ao longo dos longevos 13 dias no litoral sergipano, afetou gravemente os leitos dos rios, apicuns e manguezais. Na manhã da última quarta-feira (02), o outside das praias da capital passou a ficar repleto de placas de petróleo.

Surfistas que arriscaram à saúde ao praticar o esporte na Praia do Havaizinho, avistaram uma grande quantidade de petróleo boiando na zona de impacto das ondas no último final de semana. As areias das praias de Aracaju, no movimento da maré cheia para secando, mostravam a gravidade do problema ambiental para toda sociedade praiana.

Rio Sergipe, Coroa do Meio, na manhã do dia 03 de outubro – Vídeo: Rede Social

“Onde é a maior fonte de reprodução da vida marinha? Nos corais e manguezais! Imagine como as bancadas de corais do Nordeste estão? Os manguezais sergipanos passaram a ser contaminados há quase duas semanas. No meu entender, os governantes, políticos, instituições públicas e privadas foram lentos nas ações diante de toda a gravidade. Eles deveriam ter instalado boias de contenção no alto mar, com a ajuda da maior petrolífera brasileira, a Petrobras, e da Marinha do Brasil no início do problema, nos primeiros dias de setembro. Deveriam ter agido de forma rápida para preservar os mangues sergipanos, berçário da vida marinha”, aponta outro surfista local na Praia do Havaizinho, no último domingo, 06.

Como está a situação

Os ciclos das marés nas últimas 48 horas em Sergipe apresentaram melhoras entre maré cheia para secante, momento que aparece a maior quantidade de petróleo nas areias. Reduziu bastante o volume de petróleo nas praias da capital, mas isso não indica o término do problema. Autoridades e especialistas não sabem ao certo se aparecerão mais manchas, ou muito menos prever o término do problema.

O Ibama informou que foram recolhidos do litoral nordestino mais de 100 toneladas de petróleo cru. O problema afetou diretamente 61 cidades da região Nordeste. Em Sergipe, nos últimos cinco dias, equipes de limpeza pública, privada, ong´s e voluntários recolheram entorno de 58 toneladas das 10 praias afetadas: Praia do Mosqueiro e Praia da Atalaia, na capital sergipana, Praia de Pirambu, município de Pirambu, Praia do Jatobá, Costa, Atalaia Nova em Barra dos Coqueiros, Praia Ponta dos Mangues, em Pacatuba, e Praia do Abaís, em Estância.

Baleia jubarte no litoral de Sergipe no final do mês de setembro – Vídeo: Rede Social

A rede hoteleira de Sergipe e da região Nordeste apresentam preocupação neste momento de crise. Todos temem que as manchas de petróleo prejudiquem o turismo local neste período de aumento de temperatura.

O Ministério do Meio Ambiente, governos estaduais e municipais estão focados em conter o avanço do petróleo nas margens do Rio São Francisco. A preocupação está no abastecimento de água potável em diversas cidades, existe grande risco de contaminação das águas do “Velho Chico”.

Na última terça-feira (08), a Adema focou na ação de contenção das manchas na foz dos rios Japaratuba, ao norte do estado e Vaza Barris, na região sul de Aracaju,

O Rio Vaza Barris apresenta contaminação no seu leito. De acordo com os moradores do Mosqueiro, o petróleo foi visto boiando nas margens do rio e no manguezal. Diversas comunidades pesqueiras do nordeste foram alertadas pelas autoridades públicas: peixes, mariscos e crustáceos poderão estar contaminados por petróleo. Ingerir alimentos contaminados pode acarretar graves problemas de saúde.

Aracaju (SE), 09 de outubro de 2019

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