Caramba: 26 anos se passaram… e os olhares sob o surfe mudaram
Como qualquer história de esporte tem suas peculiaridades, a do surfe não fica atrás. Há 26 anos quando entrei para a competição do Circuito Mundial de Surfe, era muito forte e vibrante a questão de o surfista ser tido como vagabundo.
Bom, isso não é segredo pra ninguém, mas puxa já estávamos em 1997 e a imagem do surfista ainda era muito associada ao estigma do passado, de décadas como de 60 e 70. Eu sofri na pele esse preconceito no meu dia a dia, com os amigos na escola, os pais dos amigos e as namoradas. Era comum essa visão não profissional do esporte.
Então, quem competia tinha que enfrentar desafios e quebrar barreiras. O bom fôlego tinha que existir não só para pegar boas ondas, mas também para conseguir encontrar um investidor e, assim, viver do esporte.
Eu tive digamos sorte, associada a trabalho bem-feito. Conquistei meu primeiro patrocinador aos 13 anos de idade, após subir no meu primeiro pódio, 3º lugar no Circuito Nacional, na categoria iniciante. Posteriormente, entrei para a Company, marca muito desejada. Foi quando as coisas mudaram: conquistei uma certa admiração dos ‘meus amigos’, porque todos queriam ter a mochila e as roupas da Company. Repassando toda essa história, até dou risada.
Outra peculiaridade da época era o tanto que tinha de competições, eram mesmo várias e um circuito nacional muito forte. Para se ter uma ideia, praticamente todos os finais de semana tinha eventos e eu participava de todas as categorias. Tive o prazer de representar o Rio de Janeiro e trazer títulos. Eu praticava outros esportes também, mas o surfe sempre foi meu sonho. Mas, mais uma vez, a distância dos amigos. A vida era dormir cedo para competir e perdia praticamente todas as festas.
No meu período ocorreram os principais avanços em termos de tecnologia de equipamentos de surfe. Houve, por exemplo um salto no uso das pranchas feitas de epóxi (um isopor ao invés de poliuretano), que dá ainda maior flexibilidade e flutuação na prancha. Outra novidade foi a intensificação do uso das quilhas com materiais diferentes, de fibra, de madeira, e cada uma delas tem um desempenho diferente dentro da água e de acordo com o que cada atleta busca. E ressalto aqui a importância da continuidade desse processo de desenvolvimento para que o surfe evolua. Então, temos que dar um viva aos avanços tecnológicos.
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E se o surfista tem a mente aberta para utilizar os equipamentos diversos, consegue se divertir e se dar bem em lugares diferentes e ondulações diferentes, com menos e mais vento.
Antigamente, bem antigamente só existia o longboard – que é o pai e a mãe do surfe. O longboard, na verdade, é o caminho de entrada para o surfe. Ninguém começa surfando de pranchinha, porque requer mais prática. O mercado de vendas de pranchas de longboard no mundo é cerca de 80% maior do que o das pranchinhas. Inclusive no Brasil podemos notar esse crescimento gigantesco, sobretudo quando se entra no mar.
Porém, no que se refere a competições e marketing existe um investimento maior na pranchinha. Isso acontece, talvez, pela organização da criação da ASP – Association of Surfing Professionals (atual WSL – World Surf League) ser mais habituada a elas. Até hoje a WSL permanece com o longboard debaixo de suas asas, mas dando o destaque sempre para as pranchinhas.
No entanto, acima de tudo, o importante é todos respeitarem as regras que existem dentro da água. Por isso criei meu evento Surf Experiences, que é essa visão polinésia: o surfe é feito para todo mundo, de todas as idades.
E hoje de vagabundo, no Brasil, nós surfistas viramos, aos olhos de uma boa maioria, atletas muito admirados. Isso se deve sobretudo pelas constantes e frequentes conquistas de pódios e mais pódios no esporte, por nós surfistas brasileiros.
*Phil Rajzman é bicampeão mundial de longboard (2007 e 2016), atleta da elite mundial por 25 anos (até 2022). Foi primeiro brasileiro a ser campeão mundial de surfe, mas no pranchão. Tem um canal no Youtube, o Phil Good, e o Instagram e Facebook @philrajzman
Foto Destacada: O carioca Phil Rajzman é bicampeão Mundial de Longboard / Mário Nardy
Fonte: Casa do Bom Conteúdo por e-mail