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Amantes do surf, skate e rock and roll: valorizem o punk hardcore Karne Krua e a Freedom Rock Tatoo

Falar de rock and roll é falar de surf e skate na veia nas cidades brasileiras. O punk hardcore Karne Krua é referência para jovens e adultos que compõem os cenários undergrounds e dos esportes radicais. Autenticamente sergipana, a banda faz parte do cenário mais punk do Brasil.

Os apaixonados pelas atmosferas do rock, surf e skate vivenciaram as fases evolutivas do rock and roll contestador, desde o início dos anos 80 em Aracaju.  As amarras da discriminação social de casta, parental e coronelista, ao longo de décadas, foram rompidas pela atitude comportamental e liberdade de expressão ao som do Heavy Metal, Punk Rock, New Wave, Hardcore, Progressivo, Soul, Alternativo, entre outros.

Karne Krua 1987: As Merdas Do Sistema – Parte 1 – Fonte: Canal Karne Krua

A ‘Casa do Rock de Sergipe’, a loja Freedom Rock Tatoo, fundada pelo líder da Karne Krua, Sílvio Campos, músico e empreendedor desde 1985, precisa da sua ajuda, devido à imposição dos decretos do Governo de Sergipe que visam combater o avanço do novo coronavírus: nºs 40.567 e 40.563 , de 24 de março de 2020, que estabelece fechamento temporário do comércio não essencial e proibi a realização de show e eventos.

Circulou nos últimos dias, nas redes sociais, o pedido de ajuda para manter viva a ‘Casa do Rock’, a Freedom Rock Tatoo. Abaixo, segue a carta na íntegra.

Os amantes do rock and roll e praticantes dos esportes radicais podem adquirir produtos e serviços e, consequentemente, perpetuar a história do rock sergipano nas próximas décadas.

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A ferramenta comunicativa rock and roll

A segmentação de mercado, desenvolvida pela ciência do marketing, é a técnica de identificação de público-alvo do produto ou serviço, por meio dos dados psicográficos e comportamentais dos consumidores. Posteriormente, a mensagem é construída assertivamente e propagada pelos diversos veículos de comunicação online e off-line.

O rock and roll sergipano além de ferramenta cultural aglutinadora dos adultos e jovens, também pode ser considerada veículo de propaganda. O estilo musical fortalece a contra cultura conservadora e reduz o abismo da sociedade de casta, parental e coronelista de Sergipe.

Contestar a sociedade do século XX transversalmente a mensagem musical rock and roll, expressa a atitude de liberdade de pensamento e comportamento. A propaganda subliminar perpassa na moda, eventos culturais, atitudes comportamentais e linguagens comunicacionais que rompem o não aceito da sociedade passada e pavimenta o novo – desejos e comportamentos implantados pela ciência do marketing – na construção da identidade cultural.

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O rock sergipano foi e é atemporal. Ele sobrepôs à aculturação da lambada paraense dos anos 80 e do axé, samba-reggae e pagode baiano fortemente comercializado em Aracaju, a exemplo dos shows do Augustu´s e do Pré-Caju nos anos 90 e 00. O Axé Music globalizou a massa de jovens em Sergipe e nas cidades brasileiras, por meio da ampla mídia comercial, dos shows em casas de espetáculos, do carnaval realizado fora de época, rotulado de micareta e, em especial, do carnaval da Bahia.

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Entretanto, o rock and roll também aculturou os jovens brasileiros ao longo da sua história. Mas ele resistiu aos processos antropológicos musicais e comportamentais contemporâneos nos espaços públicos e privados mais undergrounds da capital e de algumas cidades de Sergipe, frequentados por jovens e adultos loucamente apaixonados pelo volume alto das guitarras estridentes e bateria pesada.

https://www.facebook.com/freedomrockinthecity/photos/a.504056986405113/1766747293469403/?type=3&theater

A banda punk hardcore Karne Krua e a Freedom Rock Tatoo pavimentaram a estrada e inspiraram as novas bandas híbridas a deixarem o estilo musical mais heterogêneo, mais rico culturalmente e, através das linguagens da propaganda, ampliou o segmento de público consumidor.

Entretanto, as mensagens contestatórias do veículo de propaganda subliminar ‘comportamento’ do público amante do rock não se perderam no limiar do tempo. O estilo de vida, moda, atitude e diversificação de linguagens representativas da cultura emaranhada sergipana reafirmam a teoria da aldeia global de McLuhan.

O rock and roll é pura essência comunicativa e a musicalidade sergipana rompeu o universo da globalização, o local é global.

Rock and roll: quebrando paradigmas sociais

A embrionária relação tempestiva rock and roll, surf e skate impulsionou a vida de inúmeros jovens da capital sergipana nas décadas 80, 90 e 00. Alinhado ao crescimento exponencial das bandas brasileiras, festivais de músicas locais, nacionais e mundiais e ao posicionamento de mercado das emissoras de rádio focadas no estilo musical, contaminou a preferência dos jovens contestadores, liberais em pensamentos e comportamentos, perante a sociedade.

Em Aracaju, o movimento não era visto com bons olhos no contexto social: transição entre a ditatura para democracia. A sociedade de ares provincianos, regida pela casta, de ordem parental e coronelista marginalizava o surf, skate e rock. A banda Karne Krua se fez presente nos eventos populares em favor da Democracia na década de 80, mas com suas letras de cunho contestadoras aos projetos políticos ditatoriais e democráticos.

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O Heavy Metal, Hard Rock, Indie Rock, Punk Rock, New Wave, Grunge, Rock Progressivo, Hardcore e Pop Rock vibravam as paredes dos ambientes acadêmicos, dos espaços públicos e privados, dos festivais de músicas, das garagens residenciais e dos centros sociais de bairros da capital, a exemplo dos conjuntos Sol Nascente, Inácio Barbosa, Grageru, entre outros. Os jovens loucamente apaixonados constituíram a identidade rock and roll de Sergipe nos anos 80 e 90.

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Surfistas e skatistas estavam colados nos ambientes undergrounds, fortalecendo a cultura rock e instigando uma gama de jovens a viveram os cenários mais punks: FestCore, Rock in Bica, Teatro Lourival Batista, Mahalo, DCE/UFS, Constâncio Vieira, concha acústica da Feirinha/Praça Tobias Barreto, Parque dos Cajueiros, Loja Organtec, Pista de Skate do Industrial, Rock-SE, Porão do Cultart, Espaço Batata-Quente, Tequila Café e Circo do Tequila, Punka, Capitão Cook, EMES, Club ATPN, Teahupoo Music Bar, Festa na Floresta na Cinelândia e Atalaia Nova, Muquifo no Shopping Rio Mar, Casa Laranja, Rua da Cultura, entre outros.

Rock and roll, Surf e Skate na veia

Surfistas e skatistas fizeram parte das tribos híbridas do rock and roll desde os anos 80. Escutar os variados estilos musicais era a regra antes, durante e depois da prática esportiva.

O movimento do skate rompia as barreiras dos quintais das casas de amigos e praças de conjuntos (pistas e equipamentos), passou a ganhar os espaços públicos noturnamente ao som do rock. A Praça Tobias Barreto, Soverteria ViSabor, Calçadão Treze de Julho, Shopping Rio Mar, Parque dos Cajueiros e Praia da Cinelândia foram alguns points onde os surfistas e skatistas se reuniam para vivenciar a cultura esportiva e rock and roll de Sergipe.

Show de Planet Hamp no Espaço Batata Quente em 1993, Orla da Atalaia – Fonte: Noize.com.br (Foto: Acervo Pessoal Pedro de Luna/Divulgação)

O caldeirão musical foi ampliado na primeira metade dos anos 90. A abertura de mercado (globalização) proporcionou facilidade na compra de LP´s e CD´s importados. O mercado de gravação das fitas K7 entre amigos foi fortalecido, assim como a locação da mídia CD nas empresas especializadas. Produtores culturais passaram a organizar festivais de músicas de forma intensa. Casas de show e bares noturnos fortaleceram o cenário underground.

Praticantes do skate fortaleceram o rock in roll na Organtec, localizado na Av. Barão de Maruim e na Pista do Bairro Industrial, a do Rato. Shows e rolês nas pistas com som em volume alto passaram a ditar comportamento.

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O esporte ganhou visibilidade profissional, a exemplo: Lúcio ‘Mosquito’, Fabrízio ‘Cara de Sapo’, Adelmo ‘Juninho ET’, Júnior ‘Detefon’ entre outros. A acessibilidade ampliou na Pista Cara de Sapo na Orla da Atalaia.

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Campeonato da Tribo do Mar Surf Club na Praia da Cinelândia, Atalaia, nos anos 90 – Foto: Carlos Cruz

A prática esportiva surf é cordão umbilical do rock and roll em Sergipe. Os campeonatos dos anos 80, 90 e 00 nas praias de Sergipe eram narrados ao vivo pelos locutores e ao som das bandas surf music e do rock sergipano, nacional e internacional.

Se reunir nas fábricas de pranchas de Aracaju impulsionava os praticantes a amar o esporte e a verdadeira cultura musical do surf. O som extraído da voz e violão movia os presentes a respirarem a atmosfera surf e rock and roll. Na antiga fábrica das pranchas Abrasão Surf Boards, nos anos 80 e 90, dezenas de jovens e adultos se reuniam diuturnamente para escutar os clássicos do rok nacional e da surf music.

A forte conexão do Punk Rock, Hardcore, Heavy Metal e Rap perante aos praticantes do surf e skate ficou intensa e empoderada na sociedade. O barulho era alto e muito mais radical.

A resistência atemporal da autêntica banda punk hardcore sergipana, Karne Krua, rompeu as mudanças comportamentais sociais dos jovens sergipanos, sem parar no tempo e instigou os amantes dos esportes radicais.

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Carta aberta na íntegra: pedido de ajuda à Freedom Rock Tatoo

Já faz mais de 30 anos que a loja de Silvio, o vocalista da Karne Krua – e de uma infinidade de outras bandas e projetos – é o ponto de encontro preferido dos “roqueiros” em Aracaju. Começou em 1987 numa garagem na Rua Riachão, no Bairro Cirurgia. Logo mudou-se para o centro, na Travessa Deusdeth Fontes. Passou pelo Edifício Casarão do Parque, aquele fantasmagórico elefante branco que até hoje segue abandonado, em ruínas – mais “underground” que isso impossível – até se fixar na Galeria Lima, na Rua de Santo Amaro, do lado da Catedral Metropolitana. Nessa primeira fase, que durou até janeiro de 1997, chamava-se Lokaos. 

Imagem: Silvio Campos

Então fechou, mas ficou pouco tempo fechada. Mudou de nome, para Freedom, e se estabeleceu em um novo endereço, na Rua de São Cristóvão. Teve que se mudar novamente por conta de um arrombamento – levaram tudo! – e finalmente se fixou na Rua Santa Luzia, 151 – também próximo à Catedral – onde funciona ininterruptamente há mais de 20 anos. Nos últimos tempos a loja precisou se reinventar, devido à queda na venda de mídia física, principalmente, e passou a vender também bebidas, funcionando como uma espécie de “pub” informal, o que fez com que muitos criassem o hábito de ir lá “tomar umas” enquanto batem papo ouvindo boa música. 

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Fechou agora, mais uma vez, por causa da pandemia. Precisamos de sua ajuda para afastar o risco de que o fechamento seja definitivo. Estamos lançando no Whatsapp e nas redes sociais uma campanha de divulgação para que as pessoas saibam como adquirir produtos e vouchers de compra antecipada de bebidas diretamente com Silvio, de forma remota. Segue o material da campanha. Pedimos a todos que compartilhe o máximo que puderem via Whatsapp e postagens em redes sociais – Instagram, Facebook, Twitter – para que façamos uma corrente de solidariedade e consigamos manter esse espaço tão necessário para o rock e a música independente em nosso estado aberto, assim que possível. Porque a Freedom é a casa do rock em Aracaju.

Publicado: 27/05/2020

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