Poluição plástica aumenta nos rios e praias de Aracaju
A combinação da maré alta e as chuvas intensas, desde o final do verão 2020 no litoral sergipano, iniciadas na primeira quinzena de fevereiro, revelaram a grave poluição plástica nos rios, mangues, estuários e das oito praias de Aracaju.
Frentes meteorológicas trazem o aumento do volume das águas das chuvas nos rios Sergipe, Poxim, Vaza-Barris e afluentes. Aliado ao ciclo da maré vazante, que movimenta o lixo sólido acumulado nas margens dos rios e lança em direção ao oceano e, posteriormente, o fluxo das correntes marítimas entorno dos estuários, encaminha a grande quantidade de lixo sólido à parte arenosa das praias da capital.
As diversas formas de poluição ambiental comprometem o futuro das novas gerações sergipanas. Bacias hidrográficas da capital estão perdendo a qualidade da água, comprometendo a saúde dos ecossistemas, da qualidade de vida humana e do desenvolvimento social.
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Ao longo dos anos parte do esgoto residencial (in natura), pluvial e industrial é despejada diretamente nos canais, rios e mangues. É comum na Praia dos Artistas, localizada no extremo norte da capital, (foz do Rio Sergipe) a água do oceano apresentar mau cheiro. Agora, as embalagens plásticas são lançadas nos estuários em maior volume, e no atual momento de crise mundial dos oceanos, o plástico e microplástico são os grandes vilões dos oceanos e vidas humanas.
Nas sessões surf, antes da pandemia da COVID-19, surfistas relatavam o aumento do lixo marinho dentro do mar. “A presença do plástico no outside e na faixa arenosa passou a ser quase que diária entre os surfistas. É comum remar e plásticos ficarem presos entre os dedos”, comentou o experiente surfista Ricardo, local da Praia do Havaizinho.
O lixo marinho composto por plástico, vidro, papel, madeira, metal e tecido, descartados das plataformas e embarcações marítimas próximas à costa litorânea, também agrava o problema de saúde pública ambiental. Somado ao lixo seco, que é descartado irregularmente pelos banhistas e comerciantes na faixa arenosa, o volume dos resíduos sólidos acumulados no ecossistema praiano aumenta consideravelmente, e coloca a saúde da fauna marinha e do cidadão em risco.
Dados do lixo plástico brasileiro
O Banco Mundial apontou que o Brasil é o 4° produtor mundial de lixo plástico, com 11,3 milhões de toneladas anualmente. Desse total, mais de 10,3 milhões foram coletadas e apenas 145 mil toneladas foram recicladas.
O volume da reciclagem brasileira está abaixo do nível mundial e requer atenção das instituições que formatam a cadeia de valor da indústria e do comércio plástico. De acordo com estudo da WWF, o Brasil recicla apenas 1,28% do plástico descartado.
Descarte irregular dos resíduos sólidos
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2018/2019, elaborado pela associação Abrelpe, responsável por manter atualizado o único relatório de âmbito nacional com números presentes referentes à gestão dos resíduos sólidos: mais de 28 mil toneladas por dia são depositadas em locais que podem causar poluição ambiental, com danos à saúde da população no Nordeste. A região mantém o menor índice de cobertura de coleta de Resíduo Sólido Urbano do país.
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Nos primeiros oito meses de 2019, a Empresa Municipal de Serviços Urbanos – Emsurb da Prefeitura de Aracaju coletou 178.315,71 toneladas de resíduos sólidos da capital, incluindo a limpeza diária das praias.
De acordo com a Abrelpe, a capital sergipana tem apenas 0,9% do total do lixo reciclado. Comparado com outras capitais nordestinas, Recife e Maceió, o índice amplia para 3,56% e 3,41% respectivamente. A cidade de Aracaju está entre as capitais que menos recicla o total do lixo coletado.
Ampliação do processo de educação ambiental
As campanhas sazonais de cunho socioambiental – Dia Mundial da Limpeza das Praias e Rios, Dia do Oceano, Dia do Meio Ambiente, Dia da Árvore, etc. -, realizadas pelas organizações do terceiro setor, entidades de ensinos, empresas privadas e órgãos governamentais promovem a mudança de pensamento e comportamento da sociedade de consumo no tocante ao descarte irregular do lixo.
Pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria – CNI divulgada em janeiro de 2020 apresenta mudança comportamental do brasileiro no manejo do lixo reciclável no domicílio: 55% dos brasileiros separam o lixo para reciclagem. Em 2013, o índice, era 47%.
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Nos últimos anos, lideranças jovens sergipanas promoveram atos em prol do meio ambiente, a exemplo de limpeza das praias mais frequentadas de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Itaporanga D´Ajuda e Pirambu. A ação de cuidado ao meio ambiente fortalece a cultura de preservação dos ecossistemas praianos, recolhendo toneladas de lixos marinhos, secos e dos rios que afetam a fauna e flora litorânea.
A promoção e realização das ações ambientais devem ser contínuas, inclusivas e colaborativas. Elas cumprem o papel de ampliar a cultura de novos hábitos educativos nas comunidades sergipanas.
Aplicar novas soluções na prática
O uso territorial próximo às margens das bacias hidrográficas da capital; a ampliação das leis de proteção e conservação governamental dos ecossistemas; ações tecnológicas inovadoras para evitar às poluições das águas dos rios; descarte irregular e responsabilidades dos lixos sólidos entre os munícipes são temáticas sensíveis que precisam ganhar relevância na pauta do próximo debate eleitoral.
A Organização das Nações Unidas do Brasil – ONU colocou a preservação dos recursos e ecossistemas em destaque, a exemplo do manguezal, no último Dia Mundial dos Oceanos, por conter recursos importantes para enfrentar as mudanças climáticas e a promover o desenvolvimento sustentável.
“O complexo de recifes de coral, mangues e gramas marinhas foi descrito como um dos sistemas mais biodiversos e produtivos do mundo, com fortes interligações entre si”, afirma em matéria jornalística publicada no site da ONU, a Oficial de Programas da Secretaria da Convenção de Cartagena, Ileana Lopez-Galvez.
Publicado: 10/07/2020