Pesquisadores da UFS projetam taxa mínima de cobertura vacinal contra covid-19 em Sergipe
Será necessário vacinar, no mínimo, um milhão de pessoas para induzir imunidade coletiva, diz estudo
Com a pandemia do novo coronavírus, o termo “imunidade coletiva”, também conhecida como imunidade de grupo ou de rebanho, popularizou-se ao longo dos últimos dez meses. A expressão surgiu no início do século passado no campo da veterinária e logo depois passou a ser utilizada na área médica. No entanto, só começou a ganhar força a partir da década de 1950 com o aumento do uso das vacinas e das campanhas de vacinação. E o que significa a tal imunidade de rebanho? De forma simples, ela ocorre quando uma parcela significativa da população se torna imune a uma doença infecciosa, seja por meio da vacinação, seja através da contaminação natural.
É consenso entre os especialistas que a vacinação em massa é o caminho mais seguro e eficaz para induzir a imunidade coletiva. E o quanto de uma população precisa ser vacinada para isso? Depende. Esse número varia de doença para doença e sofre influência da taxa de transmissão do agente infeccioso. O sarampo, por exemplo, tem uma taxa de transmissão que oscila entre 12 a 18. Isso significa que cada pessoa com sarampo infectaria, em média, 12 a 18 pessoas suscetíveis. Por conta dessa alta taxa de transmissão, é necessário vacinar pelo menos 95% da população para que os outros 5% não peguem o vírus.
Essa taxa mínima de cobertura vacinal contra a covid-19 no estado foi projetada por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), no âmbito do Projeto EpiSergipe. A análise, publicada neste domingo, 24, na Revista Interdisciplinar de Pesquisa e Inovação da UFS, considerou três parâmetros para estimar o nível crítico de imunização: a eficácia das vacinas, a taxa de reprodução básica do vírus, e a população a partir de 18 anos estimada para o ano de 2021.
As duas vacinas analisadas foram a CoronaVac (Sinovac Life Science/Instituto Butantan) e a Covishield (AstraZeneca/University of Oxford/Fiocruz), que apresentam eficácia de 50,4% e 62,1%, respectivamente. Para a taxa de reprodução do SARS-CoV-2, os pesquisadores consideraram os intervalos de 1,5 – 1,69; 1,7 –1,89; e 1,9 – 2,0. Já a população do estado com idade igual ou superior a 18 anos, estimada em 1.711.674 habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi categorizada em dois estratos etários: 18 – 64 anos e a partir de 65 anos, que somam 1.526.094 e 185.580 pessoas, respectivamente.
Sergipe recebeu do Ministério da Saúde 48 mil doses da vacina fabricada pela farmacêutica Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan. Nesta primeira fase de vacinação, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que pretende imunizar 23.272 pessoas em duas doses. Os grupos prioritários são formados por profissionais de saúde (22.760), idosos de 60 anos ou mais institucionalizados (240), pessoas com deficiência institucionalizadas (22) e indígenas aldeados (250).
Com base na eficácia de 50,4% da vacina CoronaVac e levando em consideração uma variação na taxa de reprodução básica do SARS-CoV-2 entre 1,5 e 2,0, será necessário imunizar de 1,1 a 1,7 milhão de pessoas em Sergipe, sendo de 1 a 1,5 milhão na faixa etária de 18 a 64 anos e de 122 mil a 184 mil pessoas com idade igual ou superior a 65 anos.
Dezenove mil doses da vacina produzida pela farmacêutica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram entregues ao estado de Sergipe. Segundo a SES, as doses desta vacina serão utilizadas na continuidade da vacinação dos profissionais de saúde que estão na linha de frente no combate à covid-19, conforme o Plano Nacional de Imunização. A meta é imunizar 69% dos profissionais desse grupo prioritário com o uso dos dois imunizantes ainda na primeira fase.
Com eficácia da Covishield de 62,1% e tendo como parâmetro a mesma variação na taxa de reprodução do vírus, a população mínima estimada a ser imunizada será de 900 mil a 1,4 milhão de pessoas no estado, sendo de 800 mil a 1,2 milhão entre 18 e 64 anos e de 100 mil a 150 mil entre aqueles com pelo menos 65 anos de idade.
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Líder do estudo, o professor do Departamento de Educação em Saúde e coordenador do Laboratório de Patologia Investigativa da UFS, Paulo Ricardo Martins Filho, explica que a desaceleração da propagação do novo coronavírus ocorrerá ao atingirmos o limiar de imunidade de rebanho. Isso é possível, segundo ele, “quando um número suficiente de pessoas desenvolve imunidade, mas a sua transmissão continua em um menor ritmo até, eventualmente, cessar-se por completo. É como um carro que não para quando você tira o pé do acelerador. Assim, a vacinação em massa diminuirá a transmissão do vírus na comunidade, o número de casos de covid-19, e de tal modo a quantidade de pessoas que precisam de hospitalização em decorrência da doença. Em consequência, o número de mortes também deverá ser reduzido substancialmente”.
“Hoje, a taxa de transmissão do novo coronavírus em Sergipe está acima de 1, ou seja, há um crescimento do número de casos novos de covid-19. O vírus voltou a circular com muita força em nosso estado por conta do desrespeito às medidas sanitárias de enfrentamento à covid-19, especialmente no que se refere ao uso de máscara e ao distanciamento físico. Assim, se considerarmos o panorama nacional de negação à ciência e a história recente de declínio da cobertura vacinal no país, poderemos ter um grande problema pela frente. Reforço que será preciso criar um ambiente de estímulo e de confiança para que as pessoas sejam vacinadas e um planejamento estratégico adequado por parte dos órgãos competentes, e assim termos uma cobertura vacinal mínima para controlarmos esse vírus”, complementa Paulo Martins.
O professor do Departamento de Educação em Saúde da UFS, Diego Moura Tanajura, lidera pesquisas sobre produção e testes pré-clínicos de vacinas e destaca a importância do engajamento massivo da população para se alcançar as metas de imunização. “A eficácia vacinal não é tudo. De nada adianta termos uma vacina com alta eficácia, se a população não for se vacinar. Por exemplo, a vacina contra o sarampo possui 95% de eficácia e foi responsável por eliminar a doença do território brasileiro. No entanto, com o aumento no desinteresse pela vacinação a doença voltou. Por outro lado, a vacina contra o vírus influenza (gripe) possui uma eficácia que varia entre 40 a 60% e é responsável por salvar milhares de vidas pelo Brasil. Isso mostra a importância da população ir se vacinar, independentemente do tipo de vacina e da sua eficácia”, diz Tanajura.
Coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Saúde Pública da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), o professor Victor Santana Santos chama a atenção para o fato de o Brasil ser um modelo mundial em termos de Programa de Imunização. “Somos um dos poucos países no mundo a apresentar um sistema único de saúde – o SUS – que atende de modo universal e gratuito toda a população. Além disso, devido a capilaridade do SUS, o Brasil é um dos poucos países no mundo a conseguir vacinar cerca de 5 milhões de pessoas em um único dia de campanha. Nesse sentido, assim que as vacinas se tornem disponíveis em larga escala, podemos atingir o limiar de cobertura vacinal desejado em poucos meses,” pontua.
Além de Paulo Martins, Diego Tanajura e Victor Santos, o estudo publicado na Revipi é assinado pelos professores Adriano Antunes de Souza Araújo e Lucindo José Quintans Júnior, do Departamento de Farmácia, e Walderi Monteiro da Silva Júnior, do Departamento de Fisioterapia.
Revipi
A Revista Interdisciplinar de Pesquisa e Inovação da UFS é coordenada pela Gerência de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário de Sergipe em parceria com os programas de pós-graduação das áreas da Saúde. É um periódico quadrimestral, voltado à publicação de trabalhos originais de diversas áreas de conhecimento, com foco em aspectos relacionados a pesquisa em saúde e de inovação tecnológica e gestão, por meio de relato de pesquisa, estudo teórico, relato de caso, revisões sistemáticas, comunicação breve, carta ao editor, nota técnica e resenha.
Projeto EpiSergipe
A Universidade Federal de Sergipe firmou uma parceria com o Governo do Estado para o desenvolvimento de um projeto que visa acompanhar o grau de contaminação e os impactos do novo coronavírus em Sergipe. O investimento é de R$ 4.160.000,00 através de emenda parlamentar. Subdividido em três vertentes, o projeto tem duração de um ano e consiste em monitorar o nível de infecção por covid-19, identificando-se a prevalência em quinze municípios, estimar os impactos socioeconômicos da pandemia no estado e acompanhar os impactos sociais da pandemia em populações vulneráveis.
Fonte: Universidade Federal de Sergipe / Josafá Neto | Rádio UFS
Publicado: 26/01/2020