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Entenda por que ilha da praia do Viral em Aracaju corre risco de desaparecer

Geocientista da UFS explica ameaça do avanço do mar na foz do rio Vaza-Barris

A calmaria das águas do rio Vaza-Barris no encontro com o mar é um dos principais atrativos para os banhistas que procuram a ilha da praia do Viral, localizada no litoral sul de Sergipe, na divisa entre os municípios de Aracaju e Itaporanga D’Ajuda. No entanto, a faixa de areia de cerca de 100 metros de comprimento corre o risco de desaparecer.

O alerta é uma das primeiras conclusões do Panorama de Estabilidade Geológica do Litoral Sergipano. O estudo de monitoramento multiescalar de longo prazo é realizado pelo Laboratório de Progeologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em parceria com a Defesa Civil Estadual, Defesa Civil de Aracaju, Secretaria do Meio Ambiente de Aracaju, Empresa de Obras e Urbanização de Aracaju, ICMBio e Projeto Tamar.

Nesta entrevista ao Portal UFS, o geocientista e pesquisador do Laboratório de Progeologia da UFS, Júlio César Vieira, explica o que está por trás do rompimento da barra arenosa que ameaça a ilha da praia do Viral diante do avanço do mar na região.

Júlio César Vieira é geocientista e pesquisador do Laboratório de Progeologia da UFS. Foto: Adilson Andrade/Ascom UFS

Portal UFS – Por que a ilha da praia do Viral corre o risco de desaparecer?

Júlio César Vieira – Primeiramente, quando falamos de estuário [área de transição entre rio e mar], é preciso saber que são zonas naturalmente bastante propensas a alterações rápidas. Isso acontece porque são áreas que estão sujeitas não só a aquilo que acontece a nível de oceano, mas também ao que ocorre no continente, como intensidade e regularidade de chuvas, construção de barragens e preservação de matas ciliares. Todos esses parâmetros vão influenciar e moldar aquilo que acontece no estuário de um rio. E isso é bastante perceptível na foz do rio Vaza-Barris. Muitas das situações que percebemos ali hoje não existiam, por exemplo, no início da década de 1990, como a existência da Ilha dos Namorados. Então, quando começamos os nossos estudos de campo, casando com o que observamos de imagens de satélite nos últimos cinco anos, foi possível sentenciar que o Viral era uma área em perigo de desaparecimento e extinção. Isso foi reforçado recentemente com o rompimento de uma barra arenosa na praia. Não somente esse ponto de ruptura que existe hoje que está se aprofundando, mas também há outro ponto mais a Leste da praia que corre o risco de ser rompido. Com isso, teremos dois pedaços isolados do Viral, duas pequenas ilhotas, que ficarão isoladas e, portanto, bastante suscetíveis a uma ação marinha mais intensa.

Portal UFS – Há outros fatores associados ao avanço do mar na região?

Júlio César Vieira – Além de todas as questões difusas relacionadas ao estuário, não podemos perder de vista em nenhum momento a questão do impacto direto no local, como o histórico de acesso descontrolado de veículos, impedindo que a vegetação do local cresça e se desenvolva. A partir do momento que essa vegetação está impedida de crescer e se desenvolver, ela fica impossibilitada de oferecer um serviço ambiental que é fundamental. Esse serviço ambiental é o quê? É a oportunidade que a vegetação oferece para que o sedimento [pedaços de solo ou de rochas deteriorados em pequenas partes, ou até em pó ou poeira] depositado no rio e no mar se consolide, evitando ficar mais vulnerável a qualquer ação, a qualquer intempérie. Esse é um ponto fundamental que deve ser observado não só no contexto do Viral, mas também no litoral inteiro.

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Imagens de satélite mostram avanço do mar na ilha do Viral nos últimos cinco anos. Foto: Laboratório de Progeologia

Portal UFS – Como foi possível chegar a essa conclusão cientificamente?

Júlio César Vieira – Uma parte da nossa metodologia está fundamentada na busca e acompanhamento do cenários através de imagens de satélite. Essa visão panorâmica é fundamental para modelagem do cenário futuro, porque conseguimos captar as tendências erosivas ou expansivas. Outra parte fundamental são os estudos de campo que fazemos a cada seis meses, sempre no final do verão e no final do inverno, que são momentos de mudanças bastante interessantes de serem observados no nosso litoral. Essas campanhas de campo são não só a coleta de sedimentos para análise em laboratório, como análise de granulométricas e de microscópica, mas também com uso de drone e fotografias, para que possamos construir um banco de dados de longo prazo, tendo uma visão multiescalar de todo o litoral que nós estamos monitorando.

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Portal UFS – Quais são os prejuízos para a fauna e flora diante desse risco?

Júlio César Vieira – Por isso, entendemos que o impacto na fauna e na flora já está consolidado. Do ponto de vista específico da flora, uma coisa que pode acontecer é que os sedimentos que estão se movimentando, que estão sendo perdidos, podem ser carreados para os manguezais adjacentes. A depender da espécie de mangue que tenhamos no local, esse carreamento pode causar uma mortandade pontual de um trecho do mangue. Já do ponto de vista da fauna, uma coisa que nos preocupa é a erosão forte no litoral norte de Itaporanga. Todo aquele espaço está perdido para a desova de tartarugas marinhas.

Estudo indica que erosão na faixa de areia da praia do Viral chega a dez metros por ano. Foto: Defesa Civil de Aracaju

Portal UFS – É possível reverter ou amenizar o quadro de avanço do mar?

Júlio César Vieira – O evento erosivo no Viral não é um acontecimento isolado ali dentro da foz do Vaza Barris. Observamos que, no norte de Itaporanga, os oito quilômetros do loteamento da Caueira até a foz do rio também tem passado por uma erosão de oito a dez metros por ano. Ou seja, a cada ano dez metros de praia são perdidos pelo avanço do mar. A nossa conclusão é que muito provavelmente já ultrapassamos o ponto de retorno para a sobrevivência do Viral. Com a primeira ruptura da barra arenosa e com uma segunda ruptura que pode acontecer, as pequenas ilhotas que vão ficar ali ficarão bastante susceptíveis a uma série de problemas que vão diminuir o seu porte cada vez mais. Então, é muito difícil falar em um em uma recuperação natural do Viral. A tendência de médio prazo é realmente o seu desaparecimento.

Fonte: Portal da Universidade Federal de Sergipe / Por Josafá Neto / comunica@academico.ufs.br

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