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Toxicidade online: a controvérsia em torno de Filipe Toledo no Pipe Pro

As redes sociais estão tóxicas. O caso do surfista Filipe Toledo reflete o comportamento agressivo e o discurso de ódio de grande parte dos usuários da internet, no Brasil e nas principais comunidades de surfe do mundo. No Pipe Pro, primeira etapa do World Surf League (WSL) Championship Tour (CT), que está sendo realizada na Ilha de Oahu, Havaí, o bicampeão mundial mostrou desconforto no outside de Banzai Pipeline, na bateria 6 do primeiro round, contra o compatriota Samuel Pupo e o havaiano Shion Crawford. Ficou perceptível que algo estava errado com o atleta brasileiro.

Filipe foi despachado para a repescagem do Pipe Pro surfando apenas duas ondas (0.50 + 1.27) durante os 30 minutos de confronto ocorridos na última quarta-feira, 31. A primeira bateria da repescagem não foi para água no mesmo dia. A WSL confirmou que Filipe Toledo desistiu de competir por motivo de desconforto intestinal. Antes da desistência do bicampeão, as redes sociais foram bombardeadas por comentários dos “haters“, conhecidos como os promotores do ódio digital.

Parte da torcida brasileira, muitos sem o conhecimento profundo do esporte surfe, disseminaram intolerância referente ao estado de saúde de Filipe Toledo, e outros o chamaram de “arregão” por não surfar as maiores e melhores ondas na bancada rasa de corais de Banzai Pipeline, uma das ondas mais temidas no mundo.

Filipe Toledo na conquista do bicampeonato mundial do WSL Finals 2023, em Lower Trestles, na Califórnia. Foto: Cait Miers / WSL

O pai de Filipe, a lenda do surfe brasileiro Ricardo Toledo, manifestou-se na manhã deste domingo, 6, por meio de vídeo no Instagram:

“Bom, passando aqui para fazer um desabafo. Sempre tivemos muita consideração por aqueles que torceram e torcem pela família e pelo Filipe. Diante de tudo que está acontecendo, é realmente triste ver o que as pessoas são capazes de fazer. Ver o ódio que essas pessoas têm no coração, na verdade. Quando surge uma oportunidade, elas colocam para fora, destilam o seu ódio nas redes sociais”, disse o tricampeão brasileiro de surfe profissional.

Os comentários dos últimos dias não se sustentam. Filipe Toledo chegou em 5ª lugar por duas vezes em Banzai Pipeline, em 2014 e 2023. No Billabong Pro Pipeline da temporada anterior, o brasileiro alcançou a 5ª colocação, perdendo para o inspirado saquaremense João Chianca.

Membros da comunidade internacional citaram que os dois títulos mundiais de Filipe Toledo foram favorecidos pelo novo formato, o WSL Finals. Mais uma vez, os comentários não se sustentam e proporcionaram a disseminação de fake news. Filipe ganharia os dois últimos circuitos do WSL Championship Tour, mesmo se o formato fosse o anterior: o brasileiro chegou com liderança inalcançável por qualquer outro atleta no WSL Finals. Isto é, chegaria como campeão mundial na última etapa, em Pipeline, no formato anterior.

“O Filipe está passando por um momento delicado, especialmente depois dessa enxurrada de absurdos que estão falando sobre ele, destilando na internet. Uma coisa que pensei: e se fosse o Kelly (Slater) que tivesse tido algum problema de saúde, alguma coisa, estivesse fraco e não tivesse a vontade de competir? Todo mundo ia xingar e difamar ele? Todo mundo ia colocar por terra, desmerecer todos os títulos que ele teve? Não, tudo bem, o cara é um big rider, o cara bota pra baixo, o cara tem onze títulos. Você quer comparar o Filipe com o Kelly? Não, nós estamos falando de pessoas, de seres humanos, que estão aptos a passarem por momentos difíceis. Por momentos, que muitas vezes de desconforto, que não deixam você na sua zona de conforto, para você ir lá e mostrar o seu melhor. Todos os atletas, de todas as modalidades, por muitas vezes já passaram por isso. E tudo bem, qual é o problema? A gente tem que respeitar, acho que a gente não pode desmerecer toda a história de um atleta, durante toda uma vida, tudo o que ele lutou, tudo o que ele passou para conquistar, e aonde ele chegou”, continua Ricardo Toledo.

Muitos usuários das redes sociais apresentam comportamentos depreciativos, acumulando longas horas na frente da tela e contraindo diversos tipos de doenças mentais. Cientistas apontam que a saúde dos internautas corre risco. Para uma grande parcela, os chamados “haters“, fica mais evidente o comportamento tóxico digital: palavras de ódio, xingamentos, cyberbullying e discussões acaloradas e sem respeito ao próximo são alguns dos comportamentos negativos que ofendem e interferem na saúde mental dos outros.

O bicampeão mundial Filipe Toledo no WSL Pipe Pro 2024. Foto: Brent Bielmann / WSL

Tenho certeza de que 99% das pessoas que, nos últimos dias, falaram um monte de besteira na internet estavam lá batendo palmas quando ele (Filipe Toledo) ganhou as etapas, foi campeão mundial, “vai Brasil, vai Brasil”, né! E nosso, mais um título, e agora, é só acontecer alguma coisa que as pessoas já vêm com todas as pedras na mão, todas as formas de agressão, de ódio. Realmente, isso é triste. Nada vai roubar tudo aquilo que foi construído. Ninguém conhece a nossa história, ninguém conhece tudo aquilo que nós passamos para chegar onde chegamos, e nós temos muito orgulho disso. Muito orgulho de ter trabalhado, de ter sido justo, honesto, por não ter passado por cima de ninguém e não ter desmerecido ninguém para chegar onde chegamos”, conclui o pai de Filipe Toledo.

Infelizmente, as pessoas expressam seus pensamentos nas redes sociais de maneira impulsiva, sem o mínimo de censura, o que contribui para o fenômeno de manada, tornando-se uma oportunidade para que outros usuários destilem ódio sobre temas ou pessoas. O linchamento virtual é uma realidade na sociedade contemporânea.

Foto Destacada: Perfil de Filipe Toledo no Instagram

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