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Destrua as ondas não as praias I

A preocupação com o meio ambiente litorâneo do Brasil ganhou destaque em junho 1972, a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, Suécia, foi o ponto de partida para produzir a Declaração sobre Ambiente Humano, conhecida mundialmente como Declaração de Estocolmo, estabelecendo princípios para questões ambientais internacionais, assim como a inclusão de direitos humanos, a gestão dos recursos naturais, a industrialização e o processo de desenvolvimento social no tocante a poluição e o papel da sociedade perante aos problemas.

Primeira conferência da ONU sobre o clima, em Estocolmo, no ano de 1972 – Foto: Yutaka Nagata/UN)

Nos anos seguintes, as campanhas publicitárias de cunho ambiental passaram a ter relevância entre os consumidores dos grandes centros urbanos. O persuasivo slogan “Destrua as ondas não as praias” da marca havaiana Lightning Bolt, representou o espírito da cultura de preservação do ambiente praiano entre jovens e adultos surfistas, em plena ascensão do surf radical profissional brasileiro e das realizações de competições internacionais.

Garry Lopez, co-fundador da Lightning Bolt Unlimited, Surf Co. Inc. nos anos 70 – Foto: Lightning Bolt

A força da mensagem “Destruas as ondas não as praias” foi uma descarga de relâmpago no tocante a preservação ambiental nas principais mecas do surf brasileiro nas décadas de 80 e 90: Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. O lema do surfista era destruir as ondas e preservar a rica natureza da Mata Atlântica, as praias, rios e manguezais.

O maior desastre ambiental brasileiro de todos os tempos, a grande mancha de petróleo cru que afetou drasticamente a fauna e flora litorânea, os estuários, o rico ecossistema manguezal, as comunidades pesqueiras e as atividades econômicas geradora de emprego e renda do nordeste e parte do sudeste. Na Praia do Havaizinho, em Aracaju, espécies da fauna foram encontradas mortas entre os meses de setembro e dezembro de 2019. As autoridades públicas do Brasil não identificaram o responsável pelo gravíssimo crime ambiental até o momento – Foto: Sombreiro Surf

Na atualidade, o slogan publicitário da Lightning Bolt faz parte do subconsciente dos surfistas mais experientes. Ele reafirma a verdadeira essência que permeia a moderna alma surf: ser radical nas ondas, respeitar os diversos tipos de natureza humana e praticar a consciência ambiental nos passos dados ao longo da vida praiana.

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Nas décadas de 70 e 80, os verões faziam parte do “glamour” da TV brasileira, do rádio e dos meios impressos especializados. A cobertura jornalística dos eventos esportivos praianos do eixo sul e sudeste ganhou mais destaque e novos formatos passaram a ser reproduzidos nas demais regiões.

As ações comunicativas e os produtos midiáticos da indústria cultural impulsionaram o desejo entre os jovens “descolados” do litoral brasileiro a praticarem o surf ou outras modalidades esportivas radicais (skate, bicicross, motocross, voo livre, paraquedismo, windsurf). A atmosfera surf passou a estar presente nas novelas, séries, filmes, peças publicitárias.

O principal evento de surf do Brasil nos anos 70 e primeira metade de 80, o Campeonato Internacional de Surf Waimea 5000 – Imagem: Rede Social

Os campeonatos de surf ganharam relevância entre as mídias de massa e especializada e, posteriormente, as vitórias dos surfistas profissionais brasileiros nas etapas do circuito mundial de 1976 e 1977, o esporte se consolidou em diversas cidades praianas.

Alguns do melhores surfistas brasileiros profissionais no Festival Nacional de Surf em Saquarema, Rio de janeiro, em 1978: Otávio Pacheco, Ricardo Bocão, Rico de Souza e Cauli Rodrigues – Foto: Fenando Fedoca

Os primeiros finalistas e campeões brasileiros de etapas do Circuito Mundial de Surf foram fundamentais no processo de evolução profissional do esporte. Pepê Lopes e Daniel Friedman colocaram o esporte dos deuses em destaque na mídia nacional e internacional e apresentaram novos hábitos comportamentais globalizados à sociedade brasileira. A moda entre os jovens dos anos 80 era de valorizar a saúde física, praticar esportes radicais e preservar o meio ambiente.

O surfistas profissionais brasileiros, Daniel Friedmann e Pepê Lopes, campeões do Campeonato Internacional de Surf Waimea 5000 de 1977 e 1976 respectivamente no Brasil – Foto: Fedoca Lima

Na próxima matéria, o Sombreiro Surf apresentará a concretização do sonho de Mr. Pipeline, Garry Lopez e Jack Shipley, ao criarem a Lightning Bolt Unllimited, Surf Co. Inc., uma das marcas mais icônicas do mundo; o processo inovador à evolução da prancha e, consequentemente, o aprimoramento da técnica esportiva; a parceria fechada entre os atletas do circuito mundial; e alguns relatos de surfistas e especialistas mundiais do esporte.

Aguarde e, destruas as ondas não as praias.

Publicado: 20/11/2020

Matéria reedita em 21/11/2020

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