Praia da Cinelândia: falta gestão pública nas praias de Aracaju
A cultura do “mandar retirar ou acabar” amplia em Aracaju e prejudica o entretenimento e lazer dos jovens, adultos e turistas
Os surfistas do Sombreiro Surf acompanham de perto as necessidades básicas das praias de Aracaju há mais de 30 anos. Fatos negativos e positivos relacionados à Praia da Cinelândia já foram narrados em matérias exclusivas e, também, na última década, debatido entre centenas de surfistas sergipanos no ambiente rede social.
Geralmente, as reformas e manutenções dos logradouros públicos turísticos, a exemplo da Orla da Atalaia Velha, deixam de respeitar os projetos arquitetônicos originais, sejam eles urbanístico, estrutural, ambientação, paisagístico, elétrico ou hidráulico.
Decerto, os valores atribuídos aos trabalhos artísticos originais – arquitetura, escultura, monumento, painel externo e interno – não são tratados com zelo por parte dos administradores públicos. De acordo com especialistas, é fundamental preservar a identidade cultural dos sergipanos em meio ao desenvolvimento e ao contínuo processo de aculturação.
O belo cartão postal Orla da Atalaia passou a apresentar a real imagem maquiada do turismo: chafarizes musicais, mesas de recreação e alimentação, iluminação pública decorativa do projeto paisagístico, elementos simbólicos das manifestações culturais, como “lixeiras temáticas com imagem do caranguejo, caju, coco”, estão deixando de existir a cada reforma. Ao falar Passarela do Caranguejo (ponto turístico culinário), as lixeiras com imagem do caranguejo deixam de reforçar – psicologicamente – o prato típico da região da Orla.
A imprensa sergipana cumpre com papel de informar, denunciar os graves problemas do ponto turístico diariamente. O declínio do equipamento público fica perceptível para os turistas que retornam à Aracaju, moradores da Atalaia Velha e munícipes que frequentam o local.
Desenvolvimento urbano e social: qual é o papel do gestor público?
Mas qual é o papel dos gestores como atores sociais em meio às necessidades do crescimento urbano e populacional da capital, principalmente, quando se trata de conflitos devido às relações humanas sociais e econômica no ponto turístico Praia da Cinelândia?
A tranquila Aracaju passa pelo processo contínuo de desenvolvimento urbano, social e econômico. Considerada uma cidade de médio porte, em franca expansão urbana, apresenta problemas sociais que necessitam de novos regramentos legislativos e aperfeiçoamento da gestão do executivo, mas sem perder o foco na melhoria e qualidade de vida dos cidadãos.
Nos últimos anos, a cultura implantada do “mandar retirar” ou “mandar acabar” com os eventos de grande porte em áreas oficiais e encontros culturais alternativos nos logradouros públicos vem se intensificando e abrindo lacunas de necessidades culturais e esportivas à camada jovem.
Na Praia do Havaizinho, surfistas experientes afirmaram em conversas reservadas importantes pontos à compreensão dos fatos: o Palanque Oficial do Surf de Sergipe foi retirado pelo poder público municipal no início do ano, retiram bancos e mesas do espaço Xadrez atrás do Monumento dos Formadores de Nacionalidade; não plantam árvores frutíferas por necessitar de cuidados contínuos e não proporcionar esconderijos para elementos deletérios; acabam com eventos de músicas nos espaços públicos que atraem a massa de turistas por incomodar pequena parcela de grupos empresariais e moradores da região, mesmo em detrimento da vontade democrática da maioria; acabam com encontros jovens nos espaços públicos alegando aumento dos diversos tipos de violência e importunação sonora. Mas quem é o responsável pelas políticas públicas que atendam os anseios de entretenimento e lazer dos jovens e adultos da capital?
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Marginalização dos Espaços Públicos
Marginalizar espaços públicos devido aos eventos alternativos e encontro de cidadãos no ambiente praiano virou forte tendência no atual momento de desenvolvimento urbano e populacional, seja ele positivo ou negativo no campo social de Sergipe.
Não é tempo de carregar preconceitos no coração, na mente, e nem generalizar e discriminar grupos – surfistas, skatistas, músicos alternativos, artesãos de rua -, mas respeitar a diferença de escolha de cada indivíduo, de cada cidadão sergipano. Os gestores têm a obrigação de administrar os espaços públicos, promovendo segurança, o fortalecimento da cultural local e atrativos aos turistas.
Mesmo antes da pandemia da Covid-19, jovens e adultos andam carentes de eventos culturais nos espaços públicos destinados a eventos oficiais. Falta um inovador calendário anual que promova mensalmente múltiplas culturas sergipanas.
Os “moderninhos rolezinhos” surgem nos finais de semana pelos quatro cantos da cidade, devido à falta de ações dos atores públicos em favor da cultura de massa. Para os jovens frequentadores da Praia da Cinelândia, a imposição da “cultura do mandar acabar ou retirar” se tornou a ação mais fácil para gerir os problemas sociais que afetam o campo administrativo e político.
Na atualidade, o administrador tem que encarar de frente os problemas contemporâneos e propor soluções técnicas em políticas públicas para atender os anseios dos grupos sociais.
Cultura do “Cancelar”
O comportamento da cultura moderna do “cancelar” não contribui para o desenvolvimento socioeconômico da capital Aracaju. Os eventos de grandes públicos (PPP – Parceira Público-Privada) não são mais realizados, a exemplo do Pré-Caju. A frágil cadeia do turismo sergipano deixa de ser fortalecida, em contrapartida, os anseios de entretenimento e lazer do público de massa não são atendidos pelas autoridades e, na ponta final, a ampliação da geração de emprego e renda aos munícipes é prejudicada.
As capitais nordestinas avançam nos indicadores das atividades econômicas e sociais a cada ano, através da mola propulsora do desenvolvimento, o turismo. Grandes eventos de massa fazem parte da agenda anual dos governadores e prefeitos, a exemplo dos eventos esportivos, micaretas, festivais de músicas realizados nas avenidas e orlas marítimas.
Os gestores públicos responsáveis pelos índices de desenvolvimento socioeconômico de Aracaju têm que se atentar para o futuro do seu povo. Será que é proibido ampliar a geração de emprego e renda da população menos favorecida nas praias de Aracaju?
A Praia da Cinelândia corre o risco de não mais receber os turistas e sergipanos nos bares da areia, a Empresa Municipal de Serviços Urbanos – Emsurb, notificou mais de 35 trabalhadores, pedindo a retirada dos seus equipamentos do local em fevereiro. O caso ganhou repercussão midiática e mobilizou advogados, deputado, vereadores, moradores do local e frequentadores solicitando a permanência dos ambulantes.
Duas liminares judicais com decisões favoráveis aos comerciantes garantem o exercício das suas funções na areia da Praia da Cinelândia, a principal praia turística da cidade. Todos os entes envolvidos na problemática aguardam o parecer da Justiça.
Enquanto isso, a cultura do “mandar retirar” ou “mandar acabar” segue interferindo no desenvolvimento social, econômico e turístico de Sergipe.
O Sombreiro Surf fez a checagem prévia dos fatos narrados pelas fontes jornalísticas. Por se tratar de informações verdadeiras e de interesse público, os conteúdos foram divulgados respeitando o sigilo da fonte, que é uma garantia constitucional prevista no art. 5º, inciso XIV, in fine, da Constituição Federal. Caso alguma autoridade pública queira noticiar o direito de resposta, basta enviar e-mail para: jornalismo@sombreirosurf.com.
Publicado: 01/03/2021
Alterado: 23/06/2021