EntrevistaSurf Girl

Camila Oliveira, surfista, competidora, empreendedora e empoderadora do surfe sergipano

A surfista Camila Oliveira vem radicalizando nas ondas e no empoderamento do surfe feminino sergipano há mais de 5 anos. À frente do seu tempo, ela rema forte em busca dos seus ideais e promove o esporte através do “Litoral/SE Por Elas”, rede social que aglutina centenas de mulheres praticantes do esporte local e de vários picos surf do Brasil.

Na rede social, a sua presença de líder é fator determinante à transformação, impulsionamento e ampliação do surfe feminino nas praias sergipanas. A jovem Camila começou a pegar onda na Praia da Caueira, em Itaporanga D´Ajuda/SE, incentivada pelos fiéis amigos, a exemplo do surfista Lucas Nogueira.

Camila Oliveira fundou o Milla Surf School para instruir novas mulheres praticantes do surfe – Foto: Arquivo Pessoal

Posteriormente as primeiras remadas o amor pelo “esporte dos deuses” só aumentou, mas a necessidade de dividir um bom dia de surfe ao lado de outras meninas em alto astral e total segurança passou a se tornar realidade. “Sentia muita falta de meninas no outside, então tive a ideia com algumas meninas de criar o grupo, no começo no WhatsApp, para que as meninas não tivessem medo de ir sozinha e sempre ter outra companhia”, ressalta Camila Oliveira.

O grupo das mulheres empoderadas no surfe de Sergipe ampliou temporalmente e novas demandas surgiram e, consequentemente, nortearam novas conquistas. O “Litoral/SE Por Elas” passou a fortalecer os laços de socialização, a pavimentar o longo caminho para equidade de gênero, seja no free surf ou nas competições, a combater a cultura fracassada do machismo no outside em não respeitar as mulheres, além de perpassar e orientar os fundamentos de segurança no mar e, também, princípios de saúde e bem-estar através da cultura life style que o esporte proporciona.

Camila Oliveira contribuindo na formação da nova geração do surfe feminino sergipano – Foto: Arquivo Pessoal

Na sua jornada, a empoderadora acreditou que poderia mudar o ostracismo do cenário surfe feminino em Sergipe, estagnado há anos, contudo, as suas redes sociais foram ferramentas propulsoras à renovação de praticantes na contemporaneidade, ao motivar homens e mulheres no mar, seja no free surf, nas competições, ou como instrutora esportiva.

Evolução contínua foi a palavra de ordem da jovem Camila Oliveira, de 30 anos. Além de administrar o Projeto, a surfista focou nas competições e vem obtendo bons resultados. “Fui campeã no Circuito da Praia do Abais, em Estância, e na Praia da Costa, Barra dos Coqueiros”, afirma a competidora.

Focada na ampliação esportiva, não importando o gênero do praticante, a surfista empreendedora fundou a “Milla Surf School”, escola voltada para o universo feminino, e temporalmente formou quase uma centena de criança, jovens e adultos na iniciação do esporte radical surf.

“Me sinto muito realizada, e sinto que todo o trabalho que vem sendo feito há 4 anos obtiveram resultados e se Deus permitir, iremos obter mais resultados ainda”, sinaliza a jovem empreendedora empoderada no surfe sergipano.

O Sombreiro Surf cumpre com o seu papel diário de valorizar membros que compõem a comunidade surfe de Sergipe, a exemplo de Camila Oliveira (CO). Se inspire ao ler mais uma entrevista exclusiva e de forte apelo à valorização e ampliação do surfe feminino local, nacional e global, confira.

Camila Oliveira manobrando com estilo – Foto: BK Photos

Sombreiro Surf – Como iniciou o amor pela prática esportiva surfe na sua vida? Você teve referências para lhe instigar?

CO – Sempre tive amor pelos esportes, sendo ele de qualquer gênero, mais o surf veio através do meu amigo Lucas Nogueira, que me incentivou à prática desse esporte maravilhoso.

Sombreiro Surf – E o início das competições como aconteceu? Fale um pouco do primeiro campeonato disputado?

CO – Minha primeira competição foi na Praia da Caueira, litoral sul de Sergipe, em um projeto de surf local onde abrimos algumas vagas para os aracajuanos, então meus amigos falaram vai lá, vai ser bom pra sua evolução. Com muito medo e insegurança eu fui e fiquei em terceiro lugar na competição, depois desse dia criei gosto pelas competições e nunca mais parei.

Projeto Litoral/SE Por Elas incentivando o surfe feminino sergipano – Foto: Arquivo Pessoal

Sombreiro Surf – O que te move a viver a adrenalina das baterias competitivas?

CO – Na verdade, a adrenalina dentro de uma bateria é uma mistura de emoções, sinto que meu coração vai sair pela boca! Eu sei que tenho que controlar meu emocional naquele momento, porque me resta muito pouco tempo pra fazer meu trabalho dentro d’água, me faz sentir que estou viva e posso chegar mais longe a cada dia se persistir.

Sombreiro Surf – Qual foi o seu principal resultado nas competições?

CO – Fui campeã no Circuito da Praia do Abaís, em Estância, e da Praia da Costa, na Barra dos Coqueiros, e no momento sou atual vice-campeã do Circuito Sergipano de Surf. Eu espero um dia ser campeã sergipana no ranking geral.

Camila Oliveira colocando pressão na rasgada de frontside – Foto: Orlando Rodrigues

Sombreiro Surf – Além de competidora, você é fundadora e administra o Milla Surf School, ministrando técnicas da prática esportiva para novos praticantes. Faça uma análise do aumento no número de surfistas e quais são as principais dificuldades para aqueles que visam iniciar a viver o surfe, na prática?

Sim, o @millasurfschool abriu muitas portas pra muitas mulheres no nosso Estado. Quando comecei, tinha menos de 10 meninas, na prática do surf, hoje temos mais de 80 meninas. Sinto-me muito realizada em saber que a grande maioria passou por minhas mãos e que conseguimos fazer a transformação de mais uma surfista na água, de forma correta e com todas as instruções adequadas. Os riscos de acidentes acabam diminuindo muito, e de uma maneira satisfatória. O ideal é sempre ter um instrutor e não começar só pra evitar qualquer dano. As principais dificuldades são o preconceito, muitas meninas ainda me procuram pra fazer aulas, mas muitas delas não conseguem realizar esse sonho, pelo motivo de familiares não aceitarem a prática do esporte e acreditar que o mar é um grande vilão. Então, as encorajo e tento conversar com a família, mostrando que é sim um esporte radical e, que, em algum momento ela pode sofrer uma pancada ou um corte, mas que faz parte de qualquer esporte. Eu tento tranquilizar, mostrando que quando se aprende da maneira correta e com todas as instruções adequadas, os acidentes acabam diminuindo muito, de uma maneira satisfatória, que o ideal é sempre ter uma instrutora e não começar sozinha pra evitar qualquer dano.

Camila Oliveira radicalizando e inspirando o surfe feminino sergipano – Foto: BK Photos

Sombreiro Surf – O outside é na maioria das vezes dominado por homens. Infelizmente, alguns não respeitam a preferência da mulher na remada. Como é conviver com o universo machista enraizado no surfe?

CO – É muito difícil! Eu já cheguei a discutir com alguns homens, por eles colocarem a prancha em cima de mulheres pra machucar de propósito e sem nenhum cabimento. Quando faço surf trip, em alguns lugares que passo, percebo ser mais forte essa parte machista do cara remar de igual pra igual e não liberar nenhuma onda, eu tenho consciência que o dono da onda é quem está na parte mais crítica do pico, ou entra primeiro na onda na maioria das vezes, mais a delicadeza esta aonde? Custa incentivar? Gritar pra menina vai lá, boa, essa é sua uhullll! Isso é uma atitude que adoraríamos ver dentro d’água e incentivaria muito mais a prática no nosso esporte.

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Sombreiro Surf – Nessa vertente o Projeto Litoral/SE por Elas nasceu para transformar, valorizar e consolidar a presença das mulheres surfistas nas praias sergipanas?

CO – Verdade, eu sentia muita falta de meninas no outside, então tive a ideia com algumas meninas de criar o grupo, no começo era um grupo de Whatsapp, para que as meninas não tivessem medo de ir sozinha e sempre ter outra companhia. Depois veio a ideia do Instagram para postar nossas fotos surfando e incentivar outras meninas. Em seguida, foi ganhando uma proporção bem maior e começou a fazer encontros de surf e campeonato só de mulheres, hoje a marca é registrada, fazemos algumas roupas com estampa pra divulgar ainda mais o Projeto, estou muito feliz com tudo que estamos conquistando, agora fomos premiadas com o Prêmio Esporte 2021, estou muito feliz e vendo que todo esforço dedicado às meninas está sendo colhido de uma forma satisfatória.

Camila Oliveira: mexeu com uma, mexeu com todas – Foto: Arquivo Pessoal

Sombreiro Surf – O Litoral/SE por Elas foi reconhecido pelo Prêmio Sergipe Esporte 2021 neste mês. Explique para os leitores a referida premiação e como você se sente em ter o nobre trabalho em prol do surfe sergipano valorizado?

CO – Me sinto muito realizada, e sinto que todo o trabalho que vem sendo feito há 4 anos obtiveram resultados e se Deus permitir, iremos obter mais resultados ainda.

Sombreiro Surf – Faça uma análise do surfe feminino no atual momento em Sergipe.

CO – Bom, penso que tem que melhorar muito ainda. Acredito que as meninas têm que se unir mais e fazer acontecer pra valer, porque eu sei que tem muito espaço ainda e podemos levantar uma bandeira ainda maior. Ganhamos um espaço, mas, ainda, sinto a falta de entrar no mar e ver a mesma quantidade de meninos e meninas também.

Camila Oliveira vivendo a cultura do bem-estar, do life style surfe – Foto: Arquivo Pessoal

Sombreiro Surf –  Como é viver o life style surfe e instigar novas competidoras para representar o surfe sergipano?

CO – Nossa é muito intenso viver do surf, pra quem não sabe, eu trabalhava há 6 anos com construção civil, deixei tudo pelo surf e quando me perguntam se eu me arrependo, eu falo que não, que embora eu não ganhar tão bem quanto ganhava antes, eu me sinto muito realizada em ver pessoas conquistando seus sonhos e outras conseguindo superar seus traumas através do surf, penso que isso não tem dinheiro no mundo que pague. Sempre fui uma pessoa muito instigada pelo que me meto a fazer e todos os campeonatos eu estou ali no grupo, vamos lá meninas, vamos se inscrever, essa é nossa oportunidade de mostrar que temos o direito de ocupar qualquer espaço. Muitas meninas ficam com medo do público, do nervosismo e eu sempre falo, não pense como competição, vamos passar o dia na praia com todas as meninas, pense como diversão.

Camila Oliveira vivendo na prática a cultura life style surfe – Foto: Arquivo Pessoal

Sombreiro Surf – Deixe uma mensagem para os leitores.

CO – O surf não é apenas um esporte, o surf é o style de vida. Sempre acreditei que o surf é um esporte diferente, não escolhemos ele, ele que nos escolhe, porque não é fácil começar e continuar persistindo. É um esporte onde a evolução é muito lenta e por esse fato, a maioria acaba desistindo no meio do caminho.

Publicado: 21/01/2022

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